Estudo aponta como fair-play financeiro afetaria clubes do futebol brasileiro

Um estudo inédito da Sports Value, empresa especializada em marketing esportivo, sugere um modelo aplicável de fair-play financeiro ao futebol brasileiro.

Ou seja, uma proposta de criação de mecanismos de regulação financeira para os clubes do país, baseado em uma análise transversal de dados financeiros e fluxos de capitais.

O sistema, por exemplo, já é adotado no futebol europeu. O Fair Play Financeiro foi criado em 2008 pela Uefa e implementado no início da temporada 2011-12, com o objetivo de controlar as finanças dos clubes e garantir que estes sejam sustentáveis e honrem compromissos.

O não cumprimento das regras da entidade rende punições, desde advertências, repreensões, multas, dedução de pontos, retenção de receitas, proibição de inscrição de novos jogadores, desqualificação de competições, retirada de títulos e prêmios.

Basicamente, o fair-play financeiro faz com que os clubes comprovem, periodicamente, que pagam salários em dia; que respeitam a gestão financeira, sem gastar mais do que arrecadam; e que não mantém dívidas em atraso com outros clubes, jogadores, etc.

Os erros e acertos do fair-play financeiro na Europa

O estudo explica como o modelo criado na Europa foi bem-sucedido, pelo menos inicialmente.

Mas acabou “driblado” por clubes capazes de fecharem patrocínios inflados com empresas ligadas a times de magnatas, por exemplo, como é o caso do Manchester City, da Inglaterra, do PSG, na França, dentre outros.

Em 2011, os clubes europeus deviam, juntos, 1,7 bilhão de euros. Em 2017, após uma série de reduções, os clubes do Velho Continente reverteram o cenário de prejuízos e registraram lucro de 579 milhões de euros.

No entanto, em 2019 os clubes da Uefa voltaram a registrar prejuízos, que seriam agravados com a pandemia da Covid-19.

As lições e uma sugestão de modelo para o Brasil

De acordo com o estudo, o futebol brasileiro poderia se inspirar no modelo europeu, proibindo ainda gastos e injeções de recursos fora do orçamento anual dos clubes.

Sendo assim, o modelo se sustentaria em três pilares: o controle rígido dos prejuízos de cada clube ou SAF; o controle dos gastos com salários e contratações no futebol; e, por fim, o endividamento controlado.

  • 1 – As perdas líquidas médias dos últimos dois anos não poderiam ultrapassar R$ 20 milhões;
  • 2 – Os gastos com futebol não poderiam ultrapassar o índice de 73% das receitas;
  • 3 – O endividamento deveria ser controlado, com o fluxo de caixa considerando apenas receitas ordinárias, ou seja, sem contar com eventuais transferências de jogadores.

SAFs do Brasil extrapolam déficits médios nos últimos dois anos

Em relação ao controle dos prejuízos de cada clube, equipes como Botafogo SAF, Vasco da Gama SAF, Bahia SAF, Grêmio e América-MG SAF estariam na mira do fair-play financeiro, pois tiveram déficits médios acima de R$ 20 milhões nas temporadas 2022/23.

As quatro SAFs somam prejuízo de R$ 748 milhões nos últimos dois anos, conforme a lista a seguir, que considera 2022 e 2023.

  • Botafogo: prejuízo de R$ 349 milhões
  • Vasco: prejuízo de 212 milhões
  • Bahia: prejuízo de 144 milhões
  • América-MG: prejuízo de 43 milhões

Já Flamengo, Athletico-PR, Cruzeiro SAF, Atlético-MG SAF e Internacional estariam no top 5 do superávit, neste mesmo cenário.

  • Flamengo: R$ 455 milhões de superávit
  • Athletico-PR: 431 milhões de superávit
  • Cruzeiro: R$ 205 milhões de superávit
  • Atlético-MG: R$ 182 milhões de superávit
  • Internacional: R$ 182 milhões de superávit

Controle de gastos: apenas seis clubes passariam no fair-play

De acordo com o estudo, o índice de 73% dos gastos com futebol sobre a receita seria um limite seguro para os clubes brasileiros alcançarem a sustentabilidade financeira.

Neste cenário, clubes como Botafogo e Bahia apresentaram índices acima de 100% da receita: ou seja, gastaram mais do que o total angariado na temporada, seguidos por América-MG (95%), Vasco (94%) e Atlético-MG (89%).

Por outro lado, apenas Internacional, Corinthians, Cuiabá, Santos, Athletico-PR e Flamengo se encaixariam nas premissas, de acordo com números de 2023.

  • Flamengo: 62%
  • Athletico-PR: 64%
  • Santos: 64%
  • Cuiabá: 71%
  • Corinthians: 72%
  • Internacional: 72%

Cinco clubes brasileiros teriam endividamento acima do permitido

Para completar, o estudo aponta uma sugestão de cálculo para o controle do endividamento dos clubes. A dívida líquida seria o resultado do passivo total, menos os ativos circulante e realizável.

Em outras palavras, a venda de jogadores, uma das principais fontes de receitas dos clubes do país, não poderia ser contida nos EBITDAS (lucros antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortização), os quais, por sua vez, seriam compostos apenas de receitas ordinárias.

Neste cenário, Atlético-MG, Cruzeiiro, Internacional, Vasco da Gama e Coritiba estariam acima dos indicadores considerados saudáveis para a sustentabilidade financeira de um clube brasileiro em longo prazo.

Por: Julio Filho

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